segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Balzac - A Mulher de Trinta Anos

Uma mulher de trinta anos tem encantos irresistíveis para um homem jovem (...) De fato, uma moça tem ilusões demais, inexperiência demais, e o sexo é cúmplice demais de seu amor para que um homem jovem se sinta lisonjeado com isso; enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios a serem feitos. Nesse ponto, em que uma é conduzida pela curiosidade, por seduções alheias às do amor; a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe. Essa escolha já não é um imenso elogio? Armada de saber que quase sempre custou muitos sofrimentos, ao se dar, a mulher experiente parece dar mais do que a si mesma, enquanto a moça, ignorante e crédula, nada sabendo, nada pode comparar, apreciar; aceita o amor e estuda-o. Uma nos ensina, nos aconselha numa idade em que gostamos de ser guiados, em que a obediência é um prazer; a outra quer aprender tudo e mostra-se ingênua onde a mulher experiente é terna. A primeira só apresenta ao homem um único triunfo, a última o obriga a combates perpétuos. A primeira é só lágrimas e prazer, a segunda, volúpias e remorso. Para que uma moça domine, tem de ser corrompida demais e então abandonamos com horror; enquanto uma mulher tem mil meios de conservar ao mesmo tempo poder e dignidade. Uma, submissa demais, oferece as seguranças tristes do repouso, a outra, perde demais para não pedir ao amor suas mil metamorfoses. Uma desonra-se sozinha, a outra mata em proveito do homem uma família inteira. A moça só tem uma sedução e acredita ter dito tudo quando abandona suas roupas; mas a mulher tem várias e esconde-se sob mil véus; finalmente, acaricia todas as vaidades, a noviça só lisonjeia uma. O homem comove-se, aliás, com indecisões, terrores, temores, perturbações e tempestades na mulher de trinta anos, que jamais se encontram no amor de uma moça. Ao chegar a essa idade, uma mulher pede a uma jovem que lhe restitua o respeito que ela lhe sacrificou; vive apenas para ele, preocupa-se com sua vida, deseja-lhe uma bela vida, ordena-lhe que seja gloriosa; ela obedece, pede e manda, rebaixa-se ou ergue-se e sabe consolar em mil oportunidades, onde a moça só sabe gemer. Enfim, além de todas as vantagens de sua posição, a mulher de trinta anos pode transformar-se em mocinha, desempenhar todos os papéis, ser pudica e até se embelezar com a desgraça. Entre as duas encontram-se a diferença incomensurável entre o previsível e o imprevisto, a força e a fraqueza. A mulher de trinta anos a tudo satisfaz, e a moça, sob pena de não ser, a nada deve satisfazer. Essas idéias desenvolvem-se no coração de um jovem e nele compõe a mais forte das paixões, pois unem sentimentos fictícios criados pelos costumes aos sentimentos reais da natureza.

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