sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Minha infância – Babau

Eu costumava aprontar bastante quando era criança. Filha única, mas com pais trabalhando o dia todo, era minha forma de chamar atenção.

Minha avó ficava mais comigo. Ela tinha um problema nas pernas e quadris, então ficava sempre em casa, com seu andador. Era muito difícil para ela me controlar, uma criança hiperativa. Então ela dizia: “Se não parar de fazer isso e aquilo, vou chamar o Babau, hein?”.

O Babau da minha avó, que poluía meus sonhos de criança, era o famoso homem do saco. Mas que diabos, assustar uma criança assim! Ficava imaginando o que o Babau faria se me enfiasse no saco. Se eu passaria calor. Se eu passaria fome. Se ele seria mau. Se ele me venderia para o circo. Se ele faria sabão comigo. Não sei.

Fato é que essa história toda de Babau me deixou um tanto traumatizada. Não posso ver um homem barbudo e com um saco nas costas que mudo de calçada. Vai que eu vire sabão.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Se cuidar

Há alguns dias descobri o quanto é gostoso usar creme hidratante. É como colocar cobertura de chocolate no bolo quente.

Nuvens

Se tem uma coisa que adoro fazer é formar figuras nas nuvens. Não tem umazinha sequer que passe sem ser uma tartaruga, uma criança ou até um boto perseguindo bolhas no mar.

As nuvens mostram como as coisas do mundo são efêmeras. Bastam menos de dez segundos olhando as formas e elas se vão, como fumaça.

Coisas com caras

Todas as coisas tem cara.

A comida no prato tem cara, formada por duas azeitonas e uma vagem sorridente. O muro da casa do outro lado da avenida tem cara, com dois olhos de janelas azuis e uma boca de porta laranja. A plantinha da minha mesa tem cara, com dois buraquinhos no vaso e sua vasta cabeleira.

É bom. Para todo lugar que olho tem alguma coisa sorrindo pra mim. Pelo menos na maioria das vezes.

Minha infância – Dando nome às galinhas

Hoje fui almoçar com um amigão de infância, e que agora também mora na capitá. Demos muitas risadas, como sempre, e me lembrei de uma coisa muito engraçada: Eu tinha muitos bichos na casa da minha avó, incluindo galinhas, que meu amigo e eu brincávamos.

Todas elas tinham nome e algumas até sobrenome. Os nomes que eu me lembro eram: Laura (uma galinha preta com um tumor no traseiro), Pescoço Pelado (por que será?), as irmãs Giovana, Ana Cláudia, Ana Paula, Rúbia e Cristiane (em homenagem às amigas inseparáveis) e Luis Gustavo, um lindo galo índio que tinha que dormir no pé de caqui porque as galinhas batiam nele.

Pois bem, meu amigo e eu achamos um belo dia a caixa de esmaltes da minha avó e a levamos para o quintal. Pintamos as unhas das galinhas de vermelho e rosa, puro luxo.

As coitadas passaram a tarde toda a bicar os pés umas das outras. Mas ficaram chiquetérrimas.

Minha infância – Carinho de mãe

Minha mãe nunca foi carinhosa. Ela era preocupada e ao mesmo tempo neutra. Era uma forma estranha de amar, confesso.

Por exemplo, quando ela queria brincar comigo, ela colocava um travesseiro na minha cara e falava: “Vou matar! Vou matar!”. E eu morria mesmo, de rir.

Minha infância – Bendito fluor

Quando era criança (lê-se até os 18 anos, enquanto morava com meus pais), minha mãe fazia a mesma cantilena todos os dias. Parava no batente da porta do quarto, apontava a mão para o interruptor e começava: “Tomou banho? Trocou de roupa? Tomou leite? Fez xixi? Escovou os dentes? Tomou fluor? Então agora vê se reza”. Era isso todos os dias, sem erro. Até hoje sei essa ladaínha de cor, que mais parecia uma música mesmo. Tinha até ritmo.

Quando eu tinha muita preguiça de escovar os dentes, eu mentia que já tinha escovado na casa da minha avó. Mas em seguida, me sentindo mal por mentir, essa doce ingenuidade se levantava, falando para a mãe que tinha se esquecido que quando chegara em casa tinha comido uma bolacha.

Bons tempos.

Minha infância – Amor aos bichos

Ontem fui a uma apresentação de Natura Ekos e simplesmente fiquei encantada. Esse lance “da moda”, sustentabilidade, eles realmente levam a sério.

Lá me recordei de uma coisa que fazia quando pequena. Por verdadeiro amor aos bichos e plantas, eu dava aulinhas de ecologia, assim chamava. Na verdade, eu comprava aquelas revistas sobre ecologia e depois repassava para meus amigos, numa lousinha.

Uma coisa muito engraçada que me lembrei, foi que vi uma vez na revista, um passarinho muito lindo com os dizeres: “Essa ave tem muitas cores e blá blá blá”. Como a parte que dizia o nome do pássaro estava cortada, fui perguntar para o meu pai, que era ( e ainda é) o meu guru: “Pai, que bicho que pode ter muitas cores?” E meu pai, sem saber que me referia a uma ave ou poderia falar qualquer coisa que fosse colorida, menos um arco-iris por causa da restrição animal: “Um camaleão”.

Pronto! Soltei isso na aula: “Estão vendo esse passarinho aqui? É um camaleão!”

Não sei porque não virei veterinária ou ecologista. Sério.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Offline

Hoje acabou a força aqui no trabalho. E fiquei muito surpresa. As pessoas ficam totalmente perdidas. E não por causa da luz, porque era bem cedo. Era por causa da internet.

Afinal, como descobrir o mundo sem o Google?

Que coisa mais triste.

Carta a um poeta

Li no blog da minha amiga, não sei quem escreveu, mas acho que é isso. Isso que importa.

;relate suas mágoas e seus desejos, seus pensamentos passageiros, sua fé em qualquer beleza — relate tudo isto com íntima e humilde sinceridade. Utilize, para se exprimir, as coisas do seu ambiente, as imagens dos seus sonhos e os objetos de sua lembrança. Se a própria existência cotidiana lhe parecer pobre, não a acuse. Acuse a si mesmo, diga consigo que não é bastante poeta para extrair as suas riquezas. Para o criador, com efeito, não há pobreza nem lugar mesquinho e indiferente. Mesmo que se encontrasse numa prisão, cujas paredes impedissem todos os ruídos do mundo de chegar aos seus ouvidos, não lhe ficaria sempre sua infância, esta esplêndida e régia riqueza, esse tesouro de recordações?

Miss Dolittle

Ontem fiquei pensando: O que será que meus gatos diriam se eu pudesse ouví-los?

A Nena, provavelmente diria: “Mamãe, você me aperta muito, tem hora que não quero colo. E essa mão pesada na minha barriguinha, às vezes coça! Mãe, eu gosto quando você amassa pãozinho em mim. E quando brinca no box. E quando brinca de esconder e pega-pega. E quando passa catnip no meu ratinho. Mas não gosto quando você segura meu rabo. E gosto quando quando você esconde seu pé e me deixa mordê-lo quando eu o acho. Mãe, escuta, eu adoro pêra e mamão, por que você não me dá mais? E de danoninho. E da cama do Sushi. Por que ele não me deixa deitar lá às vezes? Ele é muito chato. Não sabe brincar. Mãe, por que você não deixa a torneira aberta? Eu tenho sede quando você está trabalhando, sabia? E detesto quando me leva para cortar as unhas. Eu cuido delas, sabia também? E definitivamente, detesto quando passam pomada no meu ouvido. Mãe...”

E o Sushi: “Prrrrrrrrrr.... Prrrrrrrrrr....Me escova?”

Chuva

Cai o mundo lá fora. Eu aqui dentro, olhando a janela. As gotas apressadas, as que vão direto da nuvem para o chão, são violentas, têm pressa e não podemos escapar delas. As gotinhas que batem no vidro vão escorregando lentamente, como se quisessem espiar o que tem aqui dentro. Vão desenhando o vidro com seu percurso de prisma.

Às vezes sou como as gotonas. Passo por cima de tudo para chegar onde quero. Ultimamente ando como as gotículas. Observando bem antes de chegar em qualquer lugar.

Acho que estou crescendo. E isso é tão reconfortante.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Minha infância – À vizinha, com carinho

Sempre fui muito mimada. Filha única, única sobrinha, única neta (pelo menos do lado da minha mãe). Tá, tinham meninos, mas... quem precisa deles?

Ganhava muitos presentes quando era criança, tinha todas as novidades do momento: brinquedos, bicicletas, estojos cheio de botões. As roupas eram todas da Pakalolo, furor da criançada naquela época. E justamente nessa época, eu tinha uma vizinha, a Meire Elen, que era a minha melhor amiga. E ela não podia ter nada daquelas coisas. A mãe dela não tinha dinheiro, e o padrasto, quando ela ganhava alguma coisa, não deixava ela brincar com os brinquedos. Era para deixar na caixa para não estragar.

Então, tudo o que eu tinha, quando enjoava um pouco, eu dava para a minha vizinha. Precisava ver os olhos dela, como brilhavam. Mas lá ia o padrasto pedir para guardar! Eu ficava enfurecida.

Um dia ele estava brigando com ela porque tinha ralado a bicicleta que eu tinha dado a ela. Aí foi minha vez de dar uma bronca nele: Bicicleta foi feita para andar e ralar, senão, para que serve?

Ele quase me mandou embora da casa dele, mas nem precisou porque saí de lá batendo os pés e levei a bicicleta e a vizinha comigo. Só desgrudamos quando ela se mudou para um sítio. Lembro que fiquei até doente.

Minha infância – Quiabo

Eu tive uma boneca que vinha com um caderninho de memórias, algo assim. E lembro muito bem uma das perguntas: Qual o seu prato preferido? E a minha resposta firme, em letra de forma, aos 5 anos de idade: QUIABO.

Anel

Quinta-feira, dia 18, recebi uma surpresa pelo MSN: um pedido de casamento. Apesar da gente já ter ganhado até os presentes, o pedido não tinha sido feito. Foi mais ou menos um acordo: quando o apartamento ficasse pronto, a gente se casaria.

Só comemoramos no dia seguinte. Comprei vestido, fiz a mão e o pé. E ele me deu um anel lindo, lindo, lindo, tá aqui no meu dedo, digitando. Mal chegou e já está trabalhando feito louco.

Essas coisas acontecem assim mesmo. Quando a gente nem espera mais, ou quando achou que já estava tudo feito. E vem para fazer brilhar o dia.

Minha infância – Vitamina e Coca-Cola

Tive a oportunidade de conviver com duas figuras muito excêntricas: meus avôs. Um deles, o pai da minha mãe, o Luizinho, era um cara pra lá de saudável. Acordava antes do sol nascer, tomava banho gelado (fizesse chuva, sol ou até neve), colocava o shorts de ginástica e ia pro quintal fazer suas flexões. Aliás, tem mais coisas que quero falar dele, mas fica para outra hora.

Meu outro avô, o Eloy, este eu não via com muita frequência porque morávamos em cidades diferentes. Mas nas férias da escola, ia para a casa dele. Dele e da minha avó, a Tereza. Ele tinha um Corcel antigo, vermelho e preto, que depois vendeu e comprou outro Corcel, mas um modelo mais novo (se é que pode-se chamar de novo um carro daqueles), dourado. Adorava andar de carro com ele, que levava minha avó na igreja e ficava dentro do Corcel esperando a missa acabar.

Meus dois avôs não eram nada parecidos: O Luiz era alto e magro, o Eloy, mais baixo e gordinho. Um era super saudável, o outro adorava balas Soft redondas que fazia a gente engasgar. O vô Eloy botava uma de cada cor na boca, tudo de uma vez! E quando dava a hora do lanche da tarde, meu avô Luizinho corria com um copaço de vitamina de frutas atrás de mim, e eu não queria de jeito nenhum, tadinho! Já o vô Eloy não deixava faltar Coca Cola em casa, e ai de quem fosse lá e não tomasse pelo menos um copo. Ai.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Temporada Infância Feliz – O começo

Ontem estava na padaria perto do trabalho e qual não foi minha surpresa quando vi um símbolo da minha infância: canudos recheados com doce de leite. Vibrei feito uma criança. Tudo veio na minha memória feito uma enxurrada de chocolate com brilhinhos coloridos.

Infelizmente não pude comer o doce, por causa do meu probleminha no estômago. Mas dei uma cheirada tão forte no negócio que quase ficou sem sabor para quem comprá-lo.

Aí pensei: poxa, foi uma das melhores épocas da minha vida e eu não escrevo a respeito... Então farei daqui um espacinho para postar também as coisas de ontem. Recordar é viver. :)

Relógios

Hoje eu trouxe os relógios do amore mio para consertar. Mas gostei tanto deles assim, paradinhos... Não quero que o tempo passe rápido.

E por falar em plantas...

Na minha mesa de trabalho tenho várias plantinhas. A minha mais velha é a Fabiana, ganhei do meu amoreco. Depois de uma semana, veio a Margie, minha cabeludinha. Ganhei da agência. Aí as pessoas notaram que eu falava com elas e começaram a me dar várias plantinhas. Chegou a Fausta, depois a Calvina, tadinha, estava ficando calva, mas parece que está bem melhor e hoje tinha mais uma aqui, não sei quem me deu. Então a caçula vai se chamar Aparecida.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A delicadeza de todo ser




Uma vez vi um programa sobre plantas e seus sentimentos. Eles colocaram uns eletrodos numa plantinha e fizeram vários testes. Um deles consistia em ameaçar a verdinha. Os eletrodos não mentiram: a bichinha se tremeu toda de susto, coitada. Depois fizeram carinho nela. Ela ficou feliz!

Aí fiz esse teste em casa. Tinha uma arvorezinha toda sequinha. E eu conversei com ela, passei a mão nela, e disse que era para ela reagir, que não gostava de vê-la daquele jeito. No dia seguinte, várias folhinhas novas despontaram!

A arvorezinha podia não entender o português, mas ela sabia muito bem traduzir as intenções do meu coração.