quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Entre maçãs e caquis

"Fiz até uma brincadeira - uma hipótese sobre o tal fruto, que os artistas sacros secularmente identificaram com a maçã. Acho duvidoso. A maçã é fruta por demais séria. Sua carne é rija. Deve fazer musculação. As mães têm de usar colherinhas para raspá-las e assim dá-las aos nenezinhos. Pudica. Não se despe por vontade própria. Só a poder de faca. Prefiro pensar que foi o caqui - fruto translúcido, de polpa escorregadia, transparente, e de carnes macias, sensíveis ao mínimo toque. Sim, sugiro que o caqui substitua a maçã como símbolo do desejo, no imaginário religioso."

(Rubem Alves - Variações Sobre o Prazer)


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Profissões

Sabe qual é o problema? Mandam a gente escolher o que fazer da vida quando a gente ainda nem sabe o que é a vida.
Vida pra mim, até o vestibular, era meus pais, avó, tias, quintal com pomar, galinheiro cheio de frangos e frangas, brincar com os vizinhos, estudar pra prova, fazer desenho e escrever historinhas.
A partir daí, alguém falou pra minha mãe:
“A menina vai ser veterinária. Adora os bichos.”
E minha mãe pensou que sim.
Depois, outro alguém falou:
“A menina vai ser estilista. Cada roupa que ela faz pras bonecas...”
E minha mãe pensou que sim.
Mais outro:
“A menina vai ser desenhista. Olha esses desenhos!”
E minha mãe pensou que sim.
Aí chegou minha professora desde séculos passados e disse:
“Ela vai ser uma grande jornalista ou redatora publicitária.”
E não é que eu me convenci disso?
Fiz o que os outros falaram que eu ia ser, mas esqueci do “grande”. Porque não era o que eu queria ser. Deram-me a dica (ou melhor, pra minha mãe) e não reparei que por trás das duas opções, a raíz era a escrita.
Eu queria mesmo era ter sido escritora. Pra poder falar dos bichos, dos quintais, das famílias, das relações. Da forma que eu quisesse.
Ainda dá tempo.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Parada

Há quanto tempo não passo por aqui? Meu Deus, isso aqui costumava ser meu canto, onde eu me apoiava em mim mesma, onde achava alento nas minhas próprias palavras; quase como um diário aberto ao público.
Mas sei o que aconteceu. Tantas mudanças na minha vida; algumas boas, outras, nem tanto. Decisões erradas, tristeza, isolamento, decisões boas, alegria e dúvidas.
Minha cabeça está funcionando a mil por hora, tateando no escuro opções opostas.
De qualquer forma, me deu uma saudade imensa de escrever. Tanto que uma das decisões que finalmente tomei, é de voltar a escrever meu livro, parado há uns dois anos. Isso veio a tona graças ao clima da Flip, que me envolveu por completo. Abençoada Paraty.
Isso não é uma promessa, mas talvez uma intenção de voltar a escrever aqui também. É bem provável que escreverei somente para mim mesma; acho que nenhum amigo se lembra ainda de visitar esse velho canto. Mas tudo bem. Se resolver pelo menos pra mim, já é um grande começo. Só não sei ao certo por onde começar.